Em pleno 2025, enquanto o discurso sobre segurança e respeito às mulheres ocupa palanques e redes sociais, a realidade dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) expõe o vergonhoso abismo entre a teoria e a prática. Estudantes estão denunciando uma verdadeira onda de importunação sexual dentro dos ônibus circulares do campus de Natal — e o pior: os relatos apontam que o autor seria sempre o mesmo homem, agindo livremente, dia após dia.
Até agora, pelo menos 20 boletins de ocorrência foram registrados na Delegacia da Mulher (DEAM), e outros 29 relatos chegaram à ouvidoria da própria universidade. Isso significa que dezenas de mulheres já passaram pelo terror de serem assediadas no espaço que deveria ser sinônimo de aprendizado e segurança.
Um agressor que circula livremente
O modus operandi do criminoso é sempre o mesmo: ele embarca nos coletivos da UFRN com uma mochila enorme no colo, usada para esconder os movimentos libidinosos enquanto abusa das vítimas. Mesmo com tantos relatos, o suspeito continua circulando tranquilamente — o que diz muito sobre a (falta de) eficácia das medidas adotadas.
As estudantes relatam medo, indignação e, principalmente, abandono. A UFRN informou que “irá colaborar com a polícia” e que “oferece apoio às estudantes” — mas o que se vê na prática são medidas genéricas e insuficientes, enquanto o criminoso segue agindo.
“Ele sentou ao meu lado e ficou com a mochila no colo, escondendo as mãos. Quando percebi o que estava acontecendo, fiquei em choque” — disse uma das vítimas à Inter TV Cabugi.
O mínimo que se espera: segurança no transporte universitário
É inaceitável que o transporte público oferecido dentro de uma universidade federal, que deveria ser espaço de respeito e proteção, se transforme em território livre para criminosos. Mais grave ainda é o silêncio institucional e a morosidade para resolver o problema.
Com dezenas de denúncias em mãos, era de se esperar que medidas emergenciais já estivessem em vigor: monitoramento por câmeras, segurança embarcada, identificação e prisão do agressor. Mas, até agora, o que se viu foram apenas promessas vagas.
Crime grave, punição leve?
A importunação sexual é crime previsto no Código Penal, com pena de 1 a 5 anos de prisão. Mas o recado que a falta de ação da UFRN e do poder público está passando é outro: que abusadores podem circular impunes, enquanto as vítimas precisam conviver com o medo diário.
“A vítima nunca é culpada. O espaço público deve ser seguro para as mulheres”, lembra a advogada Geyse Raulino, presidente da Comissão da Mulher da OAB-RN.
Óbvio. Mas quem garante essa segurança? Quem age rapidamente para impedir que outras mulheres passem pelo mesmo terror?
Até quando as mulheres terão que gritar por respeito e segurança?
O caso do circular da UFRN não é um episódio isolado. É mais um reflexo de um problema estrutural, que só vai mudar quando as autoridades deixarem de fazer discursos e começarem a agir de verdade.
Não basta “ouvir” as vítimas. É preciso impedir que novas vítimas existam.
Fonte: G1