Imagens de drone corroboram denúncia de execuções em Zaporizhzhia, na Ucrânia
CNN — 24 de maio de 2025
Uma troca de mensagens por rádio entre militares russos, interceptada por autoridades ucranianas, reforça denúncias de execuções sumárias de soldados ucranianos que haviam se rendido. O conteúdo das transmissões, obtido pela CNN, coincide com imagens aéreas registradas por drones que mostram o assassinato de prisioneiros de guerra na região de Zaporizhzhia, leste da Ucrânia, em novembro de 2024.
Na gravação, com ruído de fundo, é possível ouvir uma ordem direta: “Capture o comandante e mate todos os outros.” Segundo a inteligência ucraniana, essas comunicações fazem parte de uma investigação criminal em andamento, conduzida por promotores do país. O vídeo captado mostra seis soldados ucranianos deitados no chão. Pelo menos dois são executados à queima-roupa, enquanto um terceiro é escoltado.
Embora a CNN não tenha conseguido verificar de forma independente a autenticidade das mensagens, análises forenses preliminares indicam que os áudios não foram adulterados. Um especialista da ONU e um oficial de inteligência ocidental confirmaram que o conteúdo é compatível com outras ocorrências documentadas de execuções semelhantes cometidas por tropas russas.
“Graves violações do direito internacional”, diz a ONU
Morris Tidball-Binz, relator especial da ONU para execuções extrajudiciais, afirmou que o caso representa mais uma “grave violação do direito internacional”. Ele sugere que ações desse tipo só ocorrem com conhecimento ou autorização da mais alta cúpula militar da Rússia. “Isso não aconteceria com tanta frequência sem o consentimento dos mais altos comandantes, o que na Rússia significa a Presidência”, declarou.
O Ministério da Defesa da Rússia não respondeu aos pedidos de comentário. Anteriormente, autoridades russas negaram que suas tropas cometam crimes de guerra, afirmando respeitar as convenções internacionais sobre tratamento de prisioneiros.
Unidade russa envolvida já é investigada por outros crimes
As execuções de novembro de 2024 teriam sido conduzidas por soldados da chamada “unidade Storm”, do 394º Regimento de Fuzileiros Motorizados, vinculado ao 5º Exército de Armas Combinadas da Rússia. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) também associa essa unidade a outro crime brutal na mesma região: a decapitação de um prisioneiro ucraniano.
Segundo a Procuradoria-Geral da Ucrânia, 75 investigações sobre a execução de 268 prisioneiros de guerra ucranianos já foram abertas. Os números vêm crescendo desde 2022, com destaque para os 149 soldados mortos em 2024.
Yurii Bielousov, responsável por crimes de guerra no Ministério Público ucraniano, aponta que o aumento das execuções decorre de “instruções verbais vindas da liderança política e militar da Rússia”. Ele lembra que, em março, o presidente Vladimir Putin se referiu a soldados ucranianos capturados como “terroristas” — o que, na prática, seria uma autorização implícita para sua execução.
Comando direto: “Capture o superior e elimine os outros”
As transmissões interceptadas revelam o momento exato em que a ordem de execução é dada. Um comandante russo, cuja identidade não foi confirmada, instrui seus soldados a capturar apenas o oficial ucraniano de maior patente e matar os demais. A ordem é repetida em ao menos seis ocasiões entre 12h22 e 12h28 (horário local).
O vídeo do drone, que cobre o intervalo entre 12h27 e 12h30, registra um soldado russo se aproximando dos prisioneiros e disparando na cabeça de um deles. A gravação mostra ainda o suposto comandante ucraniano sendo levado pelos russos enquanto os demais permanecem no solo.
Ódio cultural e efeitos psicológicos
Autoridades ucranianas e organizações internacionais suspeitam que essas execuções façam parte de uma estratégia deliberada, com motivações culturais e psicológicas. Para Bohdan Okhrimenko, do Quartel-General de Coordenação para Prisioneiros de Guerra da Ucrânia, os atos visam enfraquecer o moral das tropas adversárias.
Ele relata que soldados russos chegaram a publicar vídeos de mutilações de prisioneiros — incluindo castrações e decapitações — como forma de propaganda de terror. Em resposta, a Ucrânia reforçou treinamentos para garantir o tratamento humanitário de prisioneiros russos, visando facilitar futuras trocas de detentos.
Conclusão
O caso de Zaporizhzhia representa um dos episódios mais contundentes de possível crime de guerra desde o início da invasão russa. Pela primeira vez, transmissões de rádio interceptadas parecem se alinhar, em tempo real, a imagens claras de uma execução. A investigação segue em curso, com repercussões internacionais e possíveis consequências jurídicas para a liderança militar russa.