Na madrugada de segunda-feira (2), uma tragédia abalou o município de Parelhas, no interior do Rio Grande do Norte. A pequena Nathallya Kristal dos Santos, de apenas 1 ano e 3 meses, morreu no Hospital Dr. José Augusto Dantas após apresentar um quadro grave de insuficiência respiratória. A dor da família agora se mistura à revolta diante das suspeitas de negligência no atendimento à criança.
Segundo relato da mãe, Karolayne, a menina começou a apresentar sintomas na sexta-feira, após voltar da creche. “Ela chegou tossindo. No sábado teve febre. No domingo, depois do almoço, levamos para o hospital”, contou. A avó afirma que a neta foi atendida no hospital várias vezes antes do agravamento do quadro, mas em todas as ocasiões era medicada e mandada de volta para casa.
No domingo à tarde, Nathallya foi internada. Um vídeo gravado pela família mostra a menina recebendo nebulização e já com extrema dificuldade para respirar. No entanto, segundo relatos, o hospital não dispunha de aparelhos funcionando adequadamente para o suporte respiratório. A avó da criança aparece em um vídeo comovente, segurando a neta sem vida e denunciando a situação caótica da unidade.
A direção do hospital confirmou que uma sindicância foi instaurada para apurar os fatos. O procedimento deve investigar se houve falhas nos protocolos médicos, demora no atendimento ou omissão durante o agravamento do quadro clínico da criança. A gestão do hospital afirmou que a paciente chegou em estado gravíssimo e que todos os esforços foram feitos.
Já o prefeito de Parelhas, Tiago Almeida — que também é médico — fez uma declaração nas redes sociais lamentando a morte, mas apontando falhas estruturais na rede estadual. “Fiz o que estava ao meu alcance para conseguir uma vaga de UTI, mas o tempo venceu. Faltou estrutura, faltou resposta”, escreveu. Segundo ele, essa não foi a primeira vez que uma criança morreu à espera de um leito.
A declaração do prefeito gerou forte repercussão. Para muitos, a fala soa como uma tentativa de se eximir de responsabilidades. Apesar de o problema da regulação de leitos ser uma atribuição do Estado, a população questiona a gestão municipal por não oferecer condições mínimas no hospital municipal para atendimento emergencial.
Este não é um caso isolado. Em março, outro bebê, com apenas 30 dias de vida, morreu em Caicó, na mesma região enquanto aguardava transferência para uma UTI.
A governadora Fátima Bezerra tem sido criticada pela demora na resolução dos problemas de regulação de leitos. Enquanto isso, a população continua desassistida, e as mortes evitáveis se acumulam. A estrutura prometida não chega, os investimentos não são suficientes e o discurso político se repete sempre após a tragédia.
O sepultamento de Nathallya ocorreu nesta segunda-feira (3), sob clima de comoção e revolta. Para a família, restam a dor e as perguntas sem resposta. Quantas crianças mais precisarão morrer até que o acesso à saúde deixe de depender da sorte? Até quando vidas inocentes serão ceifadas pela falência de um sistema que deveria proteger, não enterrar?