Após oito dias em greve de fome, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) anunciou nesta quinta-feira (17) a suspensão do protesto iniciado contra a decisão do Conselho de Ética da Câmara, que aprovou a cassação de seu mandato na semana passada. Durante o período, o parlamentar consumiu apenas soro, isotônico e água, e perdeu quase cinco quilos, segundo sua assessoria.
A decisão de encerrar a greve ocorreu após uma reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O acordo firmado prevê que, mesmo com a tramitação do recurso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o processo de cassação só será pautado no plenário após um intervalo de, no mínimo, 60 dias — o que empurra uma eventual votação para o segundo semestre de 2025, após o recesso parlamentar.
“Estou suspendendo a greve de fome depois de um diálogo com os movimentos e de uma longa reunião. Essa suspensão vem após o compromisso assumido pelo presidente da Câmara”, declarou Glauber em coletiva.
Além de Glauber, participaram da reunião a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, os líderes do PT e PSOL na Câmara, Lindbergh Farias e Talíria Petrone, e a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber.
Recurso à CCJ
Glauber tem até o dia 22 de abril para apresentar recurso à CCJ. Caso o recurso seja negado, o processo segue ao plenário da Câmara, onde a cassação só será aprovada com voto favorável de pelo menos 257 deputados.
A deputada Talíria Petrone destacou que o recuo veio após “pressão dos movimentos sociais e de quem luta pela democracia”. Já Sâmia Bomfim afirmou que o recurso já está pronto e será protocolado na próxima terça-feira. Ela também adiantou que um grupo de juristas e religiosos deverá se reunir com o presidente da CCJ, Paulo Azi (União-BA), e com Hugo Motta nos próximos dias.
Acusação e defesa
O pedido de cassação contra Glauber teve origem em um episódio de 2024, quando o parlamentar foi acusado de empurrar e chutar um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) durante um protesto dentro do Congresso.
No entanto, Glauber afirma que o processo tem motivação política e seria resultado de sua atuação contrária ao chamado “orçamento secreto”. Segundo ele, o verdadeiro responsável por articular a tentativa de cassação seria o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
“A suspensão da greve de fome representa um recuo importante diante da perseguição que estava em curso. Mas não estamos suspendendo nossas lutas. Continuaremos denunciando o orçamento secreto, os golpistas de plantão, e cobrando justiça por Marielle Franco”, afirmou.