Dinheiro de Respiradores Não Entregues Financiou Luxo e Gastos Pessoais, Aponta PF

Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou indícios de que os R$ 48,7 milhões pagos pelo Consórcio Nordeste, sob a presidência de Rui Costa (atual ministro da Casa Civil), para a compra de respiradores pulmonares em 2020, foram desviados. 1 O dinheiro, que nunca resultou na entrega dos equipamentos, teria sido utilizado para financiar gastos pessoais de investigados, incluindo a compra de carros de luxo e o pagamento de faturas de cartão de crédito.  

A apuração da PF, à qual o UOL teve acesso exclusivo, detalha um esquema de desvio de recursos em que a empresa contratada, Hempcare, esvaziou suas contas em apenas um mês, transferindo os R$ 48,7 milhões para pessoas e empresas sem qualquer ligação com a compra dos respiradores.

O rastreamento bancário da PF mostra que, logo após receber o pagamento em abril de 2020, a Hempcare pulverizou a quantia milionária em repasses a terceiros, que por sua vez também transferiram os valores. Em menos de um mês, o dinheiro desviado foi usado para adquirir bens de alto valor, como SUVs e caminhões, e para quitar dívidas pessoais, incluindo faturas de cartão de crédito e mensalidades escolares.

“Impressiona verificar que as investigações cuidaram de apontar que até mesmo as faturas de cartões de crédito da investigada, que perfizeram o montante de R$ 149.378,74, foram pagas com valores advindos das contas da Gespar Administração de Bens. Ou seja, com dinheiro originalmente público destinado à compra dos respiradores pulmonares”, destaca um trecho do processo.

A PF identificou que ao menos R$ 5 milhões passaram por empresas de administração de bens, imobiliárias e fundos de investimento, sem chegar a nenhuma empresa do ramo de respiradores.

Rui Costa, então presidente do Consórcio Nordeste, assinou um contrato com a Hempcare, especializada em medicamentos à base de maconha e sem experiência no fornecimento de respiradores, que previa o pagamento antecipado do valor total. Os equipamentos nunca foram entregues, e o dinheiro não foi recuperado.

O Tribunal de Contas da União (TCU) inocentou o então secretário-executivo do consórcio, Carlos Gabas, que emitiu os empenhos para o pagamento, contrariando parecer técnico que apontava irregularidades. O inquérito da PF continua em andamento, tendo sido recentemente devolvido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A investigação também apura o pagamento de comissões milionárias a um lobista, que se apresentou como amigo de Rui Costa e da então primeira-dama, Aline Peixoto, conforme revelado pelo UOL em abril de 2023.

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