O ator Rafael Cardoso está vivendo aquilo que muitos pais no Brasil enfrentam em silêncio: a dor de estar vivo, presente, mas impedido de conviver com os próprios filhos. Há mais de dois anos sem contato físico com Aurora, de 10 anos, e Valentim, de 7, frutos do casamento com Mari Bridi, o artista emocionou o público ao abrir o coração em entrevista recente.
“Hoje eu vivo por eles. Não os vejo, não os abraço. Mas cozinho o que pedem por vídeo e deixo na portaria. É o que posso fazer para que saibam que estou aqui”, disse, em um relato sincero no programa Sensacional, da RedeTV!.
O que deveria ser apenas um processo de visitação transformou-se em um fardo. Segundo Rafael, a ação judicial que poderia garantir seu direito de estar presente na vida dos filhos está parada há seis meses. Nada anda. Nenhuma audiência. Nenhuma resposta. E a vida segue, distante — para ele, para Aurora, para Valentim.
Uma ferida que a Justiça se recusa a enxergar
A história de Rafael é a de milhares de pais e mães no Brasil que são afastados dos filhos não por decisão judicial, mas por negligência do próprio sistema. A alienação parental — quando um dos responsáveis dificulta ou impede a convivência da criança com o outro — continua sendo tratada por parte do Judiciário com desdém, como se fosse exagero, ou “briga de casal”.
Só que não é. É devastador. E Rafael tenta ser forte. “Já chorei muito por conta disso, já sofri demais”, confessou. “Mas entendi que a verdade sempre aparece. E graças a Deus eles estão crescendo e eu sigo fazendo o meu melhor”.
Em certo momento da entrevista, Rafael fez um desabafo cortante: “Assassinos, psicopatas veem seus filhos — nem que seja na cadeia. E eu? Eu sou impedido. Não estou tirando minha responsabilidade por erros que cometi, mas isso não justifica apagar um pai da vida dos filhos”.
Essa fala resume a frustração de quem tenta, todos os dias, ser pai mesmo sem espaço para exercer a paternidade. E é aí que surge a maior ferida: o sistema que deveria garantir o direito das crianças à convivência saudável com ambos os pais muitas vezes se omite. Deixa processos empacados. Permite que o afeto vire moeda de troca. E quando finalmente reage, já é tarde demais — os laços foram corroídos pela ausência.
Mesmo sem poder estar presente, Rafael se recusa a desaparecer. “Falo com eles por vídeo e pergunto: ‘O que querem que o pai cozinhe pra vocês?’. Aí eu preparo tudo e deixo na portaria”, contou.
É um gesto pequeno, talvez até simbólico, mas que carrega a força de quem não quer ser esquecido. De quem luta para estar, mesmo que do lado de fora. Mesmo que sem abraço. Mesmo que calado por decisões que nunca chegam.
O silêncio que machuca
A dor de Rafael é a dor de tantos pais e mães que amam seus filhos, mas são empurrados para longe por decisões unilaterais, por mágoas mal resolvidas ou, pior, por um Judiciário que ainda falha em proteger os laços familiares.
“Não estou me vitimizando”, disse ele. “Só quero que a verdade apareça. Desde o início fui vítima de alienação parental, sem nenhuma ordem judicial determinando isso”.
É preciso coragem para admitir que algo tão essencial como o amor de um pai pode ser sufocado pela lentidão de um processo. E mais coragem ainda para seguir tentando, cozinhando, ligando por vídeo, deixando a comida na portaria — na esperança de que um dia, quem sabe, os portões se abram de novo.
Rafael não é só um ator. É um pai. E pais também sentem saudade. Pais também choram. Pais também precisam ser ouvidos. E a Justiça precisa, urgentemente, começar a escutar.