O município de João Dias, no Rio Grande do Norte, foi destaque no Fantástico deste domingo (11) em uma reportagem chocante sobre a atuação de facções criminosas no interior do Brasil. A cidade, com pouco mais de 2 mil habitantes, se tornou símbolo de como o crime organizado tenta dominar o poder político local — inclusive com execução de um prefeito em plena campanha eleitoral.
Segundo um relatório sigiloso da Polícia Federal e do Ministério Público, obtido com exclusividade pelo programa, facções criminosas tentaram interferir nas eleições municipais de 2024 em pelo menos 42 cidades brasileiras. Em João Dias, o caso ganhou contornos ainda mais graves: o prefeito Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo, e seu pai foram assassinados em agosto de 2024, em meio à sua campanha pela reeleição.
Execução planejada por traficantes ligados ao PCC
A execução do prefeito teria sido orquestrada por traficantes internacionais ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os principais suspeitos está Francisco Deusamor Jácome, condenado por tráfico internacional e aliado de Marcola, líder da facção. Em áudios revelados pela reportagem, Deusamor ofereceu altas quantias de dinheiro a Marcelo para que este renunciasse à prefeitura.
Em 2020, Marcelo foi eleito em uma chapa que tinha como vice a irmã do traficante, Damária Jácome. Apenas seis meses após tomar posse, Marcelo renunciou, alegando pressão e ameaças. A vice, então, assumiu o cargo — e passou a governar a cidade em nome da família Jácome.
Família Jácome e o domínio do poder
A família Jácome é apontada como uma das principais organizações criminosas do Nordeste, com quatro irmãos condenados por tráfico internacional. Investigações apontam que, mesmo antes da renúncia do prefeito, os verdadeiros gestores de João Dias eram os irmãos traficantes.
Em discurso, Damária admitiu que seus irmãos haviam “idealizado os quatro anos de administração” da cidade. A receita municipal de João Dias em 2023 foi de R$ 23 milhões — um atrativo para facções interessadas em desviar recursos públicos.
Campanha de 2024 termina em tragédia
Marcelo voltou à disputa eleitoral em 2024, desta vez pelo União Brasil, concorrendo contra sua ex-vice, Damária (Republicanos). A campanha foi marcada por tensão e ameaças. Segundo a Polícia Civil, os próprios mandantes do crime chegaram a cogitar matar o prefeito durante um culto, mas desistiram por “respeito a Deus”.
O atentado fatal ocorreu em uma barbearia. Marcelo e seu pai foram assassinados. Nove pessoas já foram presas e outras quatro estão foragidas — entre elas, Damária Jácome, acusada de ser uma das mandantes do crime.
Repercussão nacional e investigações
A reportagem do Fantástico evidenciou como João Dias se tornou um exemplo nacional do avanço do crime organizado sobre o poder público municipal. O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, alertou:
“A estratégia das facções é assumir o poder político em locais onde há possibilidade de ganho econômico. Isso precisa ser estancado com urgência”.
A atual prefeita, viúva de Marcelo, disse em nota que a cidade vive momentos de profunda intranquilidade, mas que trabalha para devolver a normalidade à população.
Fonte: G1